A Mãe do Bom Pastor
O sábado antes do dia do
Bom Pastor (atualmente IV Domingo de Pascoa) é a festa da Mãe do Bom Pastor
(Divina Pastora), devoção tipicamente capuchinha de origem espanhola, que desde
quase um século é a patrona de todas as missões capuchinhas em todo o mundo.
Origem da devoção
No ano de 1703, frei Isidoro de Sevilha, grande pregador popular, sente a inspiração de ser acompanhado nas suas missões por um estandarte com uma singular representação da Virgem Maria: vestida com as roupas simples de uma cuidadora de ovelhas, sentada sobre uma pedra, debaixo de uma árvore, com um chapéu comum e tendo algumas ovelhinhas ao seu redor. Certamente esta imagem contrastava com as muitas e exuberantes imagens que se tinha da Virgem, sempre com trajes muito suntuosos, coroas esplêndidas e tronos imponentes. O pregador capuchinho intuía que a simplicidade da mãe de Deus tão próxima de todos os seus filhos, e preocupada especialmente pelas ovelhas distantes ou desviadas, daria um toque especial às suas palavras e ajudaria a mexer nos corações para voltar a Deus.
De fato, isto aconteceu. A devoção à “Pastora das almas”,
que popularmente se tornou a “Divina Pastora” se expandiu rapidamente com a criação
de muitos grupos de fieis ligados a ela em toda a Espanha, eram o “Rebanho
de Maria”. Obviamente, não faltaram os que não aceitavam de vê-la assim, tão
pobre e simples (diziam que a “sua indumentaria era indecorosa, indecente e
impura”), porém venceu o sentimento popular que imediatamente se sentiu
identificado com esta nova versão de Maria, mãe de misericórdia.
A aprovação eclesial
Frei Isidoro procurou de muitos modos obter a aprovação eclesiástica para esta devoção e recebeu do Papa Clemente IX (1700-1721) duas bulas que concediam, de uma parte, que o altar onde se venerava a imagem da Divina Pastora fosse altar privilegiado, e de outra, que as irmandades do “Rebanho de Maria” tivessem todas as indulgências e privilégios que se davam a tais associações, porém os documentos não davam uma explícita a aprovação da devoção.
Com a sua morte, em 1750, por alguns anos esta devoção
ficou em certo sentido órfã, porém encontrou no Beato Diego de Cádiz
(1743-1801) um apaixonado propagador. Este capuchinho dizia ter recebido o dom
da pregação através da Divina Pastora. Foi ele que escreveu os textos
litúrgicos apropriados para a celebração da missa em sua honra e também da
liturgia das horas, que em 1795 foram aprovados pelo Papa Pio VI, o que confirmava
canonicamente esta devoção. Desde então os capuchinhos espanhóis podiam
celebrar a sua festa litúrgica todos os anos na véspera do domingo do Bom
Pastor, que naquela época era o segundo domingo depois da Páscoa.
Patrona de todas as missões capuchinhas
Com o voto favorável do Capítulo geral de 1932 a Mãe do
Bom Pastor foi declarada patrona universal de todas as missões da Ordem
Capuchinha, no dia 22 de maio, e isto continua até hoje em vigor. De fato, as atuais
Constituições aprovadas no dia 04 de outubro de 2013, afirmam no número 181,3:
“Confiemos essa grande obra à intercessão da bem-aventurada Virgem Maria, Mãe
do Bom Pastor, que gerou Cristo, luz e salvação de todos os povos, e que,
na manhã de Pentecostes, sob a ação do Espírito Santo, presidiu em oração o
início da evangelização.”
Mãe do Bom Pastor ou Divina Pastora?
Geralmente, as pessoas mais
intelectuais e os teólogos preferem chama-la de Mae do Bom Pastor, ainda que em
alguns pronunciamentos da Igreja se chegou a chama-la também “Divina Pastora”. Já
o povo de Deus nunca sentiu a necessidade nem acolheu as razoes para mudar o
seu nome. Sempre continuou a chama-la “Divina Pastora” e não porque acreditasse
que ela fosse uma deusa, ou uma divindade, pois todos sabem perfeitamente que
ela é a Mãe de Jesus, o Bom Pastor, mas entendem que a sua ação, o seu serviço,
é divino. Ao colaborar com o projeto de Deus o seu agir se faz divino, e por isso
a chamam carinhosamente: “Divina Pastora”.
Uma Virgem capuchinha
O primeiro que nos salta aos olhos é a sua pobreza:
vestida como os pobres pastores, com um simples chapéu de camponesa. Talvez, hoje
depois do Vaticano II, nos parece normal vê-la neste modo mais próxima, porém foi
uma fantástica intuição naquela época de tantas pompas, propor uma imagem da
Virgem assim, quase repetindo as palavras de Francisco de Assis: “e mais não queríamos
ter…”. Isto fez e faz dela uma Mãe próxima, desinteressada, solidaria. Ela nos
convida como capuchinhos a compreender a beleza de ser pobres, de nos contentar
com o pouco, de pensar uma pastoral feita muito mais com o coração que com altas
tecnologias.
O estar rodeada de ovelhas
nos sugere que ela gera fraternidade. A Virgem Maria é agregadora. Assim
como em Pentecostes ela parece reunir os apóstolos em oração, e assim continua
na história, como nossa mãe, gerando fraternidade entre nós, colaborando na nossa
unidade.
Podemos ver nela uma mulher
em harmonia com a criação. Usa o que necessita do mundo: ela está
vestida com pele de ovelha, está sentada debaixo de uma árvore, leva o rebanho às
reservas de comida e água, porém vive uma relação respeitosa com a natureza. O
pastor tem sempre muito claro que depende dos recursos naturais e por isso não pode
arruína-los ou explorar mais do que se possa repor.
E por fim, a Pastora
das almas é missionária. Ela surge para apoiar as missões capuchinhas e
desde a sua origem cumpre com a sua missão. Ela vigia sobre nós para que nunca
percamos este ideal, para que não abandonemos a pastoral, para que não sejamos insensíveis
diante das ovelhas que estão se perdendo, mas com criatividade sempre renovada
possamos cumprir o que o Bom Pastor espera de nós.
Por todos estes detalhes
podemos ver na Divina Pastora uma autêntica representação capuchinha do mistério
da Mãe de Deus. Tê-la presente e venerá-la em todas as nossas fraternidades pode
ser um modo precioso de fazer crescer em nós a fidelidade a nossa vocação que
na Espanha foi tão bem sintetizado: ser missionários e santos.
Secretário geral para Evangelização, Animação e Cooperação Missionária
CRUCES RODRIGUEZ, José Francisco, La Divina Pastora de las almas: historia de la advocación e iconografía y su vinculación con la ciudad de Málaga, in: Advocaciones Marianas de Gloria, San Lorenzo del Escorial, 2012, 985-1004.
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