martedì 20 aprile 2021

Patrona de todas as missões capuchinhas

                                             A Mãe do Bom Pastor

            O sábado antes do dia do Bom Pastor (atualmente IV Domingo de Pascoa) é a festa da Mãe do Bom Pastor (Divina Pastora), devoção tipicamente capuchinha de origem espanhola, que desde quase um século é a patrona de todas as missões capuchinhas em todo o mundo.

 

Origem da devoção  


No ano de 1703, frei Isidoro de Sevilha, grande pregador popular, sente a inspiração de ser acompanhado nas suas missões por um estandarte com uma singular representação da Virgem Maria: vestida com as roupas simples de uma cuidadora de ovelhas, sentada sobre uma pedra, debaixo de uma árvore, com um chapéu comum e tendo algumas ovelhinhas ao seu redor. Certamente esta imagem contrastava com as muitas e exuberantes imagens que se tinha da Virgem, sempre com trajes muito suntuosos, coroas esplêndidas e tronos imponentes. O pregador capuchinho intuía que a simplicidade da mãe de Deus tão próxima de todos os seus filhos, e preocupada especialmente pelas ovelhas distantes ou desviadas, daria um toque especial às suas palavras e ajudaria a mexer nos corações para voltar a Deus.


De fato, isto aconteceu. A devoção à “Pastora das almas”, que popularmente se tornou a “Divina Pastora” se expandiu rapidamente com a criação de muitos grupos de fieis ligados a ela em toda a Espanha, eram o “
Rebanho de Maria”. Obviamente, não faltaram os que não aceitavam de vê-la assim, tão pobre e simples (diziam que a “sua indumentaria era indecorosa, indecente e impura”), porém venceu o sentimento popular que imediatamente se sentiu identificado com esta nova versão de Maria, mãe de misericórdia.

 

A aprovação eclesial

            Frei Isidoro procurou de muitos modos obter a aprovação eclesiástica para esta devoção e recebeu do Papa Clemente IX (1700-1721) duas bulas que concediam, de uma parte, que o altar onde se venerava a imagem da Divina Pastora fosse altar privilegiado, e de outra, que as irmandades do “Rebanho de Maria” tivessem todas as indulgências e privilégios que se davam a tais associações, porém os documentos não davam uma explícita a aprovação da devoção.


Com a sua morte, em 1750, por alguns anos esta devoção ficou em certo sentido órfã, porém encontrou no Beato Diego de Cádiz (1743-1801) um apaixonado propagador. Este capuchinho dizia ter recebido o dom da pregação através da Divina Pastora. Foi ele que escreveu os textos litúrgicos apropriados para a celebração da missa em sua honra e também da liturgia das horas, que em 1795 foram aprovados pelo Papa Pio VI, o que confirmava canonicamente esta devoção. Desde então os capuchinhos espanhóis podiam celebrar a sua festa litúrgica todos os anos na véspera do domingo do Bom Pastor, que naquela época era o segundo domingo depois da Páscoa.

Também sob o impulso do beato Diego, em 1798 um decreto do superior provincial dos capuchinos ordenava a colocação da sua imagem em todas as igrejas capuchinhas em Espanha e a proclamava patrona das missões capuchinhas espanholas. A sua devoção se estendeu por toda a Espanha, nas suas missões na América Latina, Filipinas e também em muitas partes da Itália que estavam sob influxo espanhol. Em 1885, o papa Leão XIII estendeu esta festividade a toda a Ordem.  

Surgiram, ademais, algumas congregações femininas fortemente ligadas a esta devoção: Irmãs Capuchinhas da Mãe do Divino Pastor (Beato José Tous y Soler, ofmcap); Terciarias Capuchinhas da Divina Pastora (fr. Pedro de Llisá, ofmcap); Terciarias Franciscanas da Divina Pastora (Beata M. Ana Mogas); Congregação do Rebanho de Maria (Francisco de Assis Medina); Congregação Escolapia de Religiosas, Filhas da Divina Pastora (P. Faustino Miguel, Escolapio). Como podemos notar a santidade capuchinha na Espanha encontra uma grande proximidade a esta bela devoção. 
 

        

              Patrona de todas as missões capuchinhas

           

Com o voto favorável do Capítulo geral de 1932 a Mãe do Bom Pastor foi declarada patrona universal de todas as missões da Ordem Capuchinha, no dia 22 de maio, e isto continua até hoje em vigor. De fato, as atuais Constituições aprovadas no dia 04 de outubro de 2013, afirmam no número 181,3: “Confiemos essa grande obra à intercessão da bem-aventurada Virgem Maria, Mãe do Bom Pastor, que gerou Cristo, luz e salvação de todos os povos, e que, na manhã de Pentecostes, sob a ação do Espírito Santo, presidiu em oração o início da evangelização.”

No entanto, parece que não muitas das nossas presenças missionarias, aparte daquelas de origem espanholas, puderam conhecer esta devoção e invocar a sua proteção. Certamente vale a pena torná-la mais conhecida em todas as nossas missões e obras apostólicas. A Mãe do Bom Pastor pode ser uma luz, um apoio e um estímulo no nosso trabalho missionário e apostólico, pois, sendo uma devoção tipicamente capuchinha, leva as nossas marcas e pode nos ajudar a ser mais autênticos.      

      

Mãe do Bom Pastor ou Divina Pastora?

 

            Na sua origem era chamada unicamente de Pastora pelo frei Isidoro, porém, em seguida o povo agregou o título de Divina Pastora. Também o Menino Jesus não fazia parte da imagem original, mas nas representações das décadas seguintes o Menino foi posto, colocando em maior luz que ela era a Mãe do Bom Pastor.

            Geralmente, as pessoas mais intelectuais e os teólogos preferem chama-la de Mae do Bom Pastor, ainda que em alguns pronunciamentos da Igreja se chegou a chama-la também “Divina Pastora”. Já o povo de Deus nunca sentiu a necessidade nem acolheu as razoes para mudar o seu nome. Sempre continuou a chama-la “Divina Pastora” e não porque acreditasse que ela fosse uma deusa, ou uma divindade, pois todos sabem perfeitamente que ela é a Mãe de Jesus, o Bom Pastor, mas entendem que a sua ação, o seu serviço, é divino. Ao colaborar com o projeto de Deus o seu agir se faz divino, e por isso a chamam carinhosamente: “Divina Pastora”.                    

 

     Uma Virgem capuchinha

             

Procuremos meditar em algumas das suas caraterísticas originais e interpretá-las a partir do nosso carisma capuchinho, desde os nossos valores. É importante ter presente a sua imagem nos inícios, pois com o passar dos séculos, e o crescimento da devoção, as vezes foram sendo agregados detalhes que num certo sentido obscurecem a sua simplicidade original. Vejamos:

O primeiro que nos salta aos olhos é a sua pobreza: vestida como os pobres pastores, com um simples chapéu de camponesa. Talvez, hoje depois do Vaticano II, nos parece normal vê-la neste modo mais próxima, porém foi uma fantástica intuição naquela época de tantas pompas, propor uma imagem da Virgem assim, quase repetindo as palavras de Francisco de Assis: “e mais não queríamos ter…”. Isto fez e faz dela uma Mãe próxima, desinteressada, solidaria. Ela nos convida como capuchinhos a compreender a beleza de ser pobres, de nos contentar com o pouco, de pensar uma pastoral feita muito mais com o coração que com altas tecnologias.

            Nos chama a atenção a sua minoridade: sentada sobre uma pedra debaixo de uma árvore. É a rainha do céu e da terra, porém não tem um trono de luxo. Está cômoda sobre uma pedra e procura a humilde proteção de uma árvore. Certamente não porque não mereça ou não possa ter outras comodidades e privilégios, mas porque fez opção e é feliz ao estar perto do rebanho.     

            O estar rodeada de ovelhas nos sugere que ela gera fraternidade. A Virgem Maria é agregadora. Assim como em Pentecostes ela parece reunir os apóstolos em oração, e assim continua na história, como nossa mãe, gerando fraternidade entre nós, colaborando na nossa unidade.

            O fato de estar sentada, nos faz pensar que ela é também contemplativa. Os que trabalham no pastoreio sabem que tem momentos de atividade, de conduzir o rebanho, de procurar água e pastagens, mas também tem muitos momentos que pode se sentar e contemplar, esperando com paciência que as ovelhas se saciem. No entanto, não é uma contemplação alienante, mesmo se pensa ao mistério da vida, fica sempre atenta ao rebanho, pronta a intervir imediatamente se for preciso.

            Podemos ver nela uma mulher em harmonia com a criação. Usa o que necessita do mundo: ela está vestida com pele de ovelha, está sentada debaixo de uma árvore, leva o rebanho às reservas de comida e água, porém vive uma relação respeitosa com a natureza. O pastor tem sempre muito claro que depende dos recursos naturais e por isso não pode arruína-los ou explorar mais do que se possa repor.            

            Sendo uma pastora nos fala da importância do trabalho simples. Nos lembra que o trabalho é uma graça, não um castigo. Ele é parte da nossa espiritualidade. Os nossos santos capuchinhos nos mostram que não existe santidade capuchinha sem trabalho. O trabalho manual, o trabalho discreto, aquele que talvez outros não queiram fazê-lo, são para nós ocasião de encontro, de crescimento, de comunhão e serviço.

            E por fim, a Pastora das almas é missionária. Ela surge para apoiar as missões capuchinhas e desde a sua origem cumpre com a sua missão. Ela vigia sobre nós para que nunca percamos este ideal, para que não abandonemos a pastoral, para que não sejamos insensíveis diante das ovelhas que estão se perdendo, mas com criatividade sempre renovada possamos cumprir o que o Bom Pastor espera de nós.   

            Por todos estes detalhes podemos ver na Divina Pastora uma autêntica representação capuchinha do mistério da Mãe de Deus. Tê-la presente e venerá-la em todas as nossas fraternidades pode ser um modo precioso de fazer crescer em nós a fidelidade a nossa vocação que na Espanha foi tão bem sintetizado: ser missionários e santos.

 

          Frei Mariosvaldo Florentino, ofmcap

  Secretário geral para Evangelização, Animação                                                                                     e Cooperação Missionária

 Fontes:

 Carta do Ministro Geral, Fr John Corriveau, com motivo da celebração do 3º centenário da devoção “María, Madre el Buen Pastor” (Divina Pastora), 07/10/2003, Analecta OFMCap, 2003, 647-654.

CRUCES RODRIGUEZ, José Francisco, La Divina Pastora de las almas: historia de la advocación e iconografía y su vinculación con la ciudad de Málaga, in: Advocaciones Marianas de Gloria, San Lorenzo del Escorial, 2012, 985-1004.

         

Ao longo destes séculos os artistas e a piedade popular souberam propor em muitos modos imagens da Mãe do Bom Pastor (Divina Pastora), mostrando-nos quanto é viva esta devoção…


 
 

       




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