Fraternidades Capuchinhas Missionárias
no Coração da Amazônia
1. Introdução.
Já desde 2010, e um pouco mais no sexênio passado, começou-se a falar de uma fraternidade interprovincial na Amazônia, onde fosse possível realizar um trabalho missionário especialmente dedicado aos indígenas. A proposta foi discutida em várias instâncias, sem chegar a uma concretização.
No início deste sexênio, nosso Ministro Geral Fr. Roberto Genuin, em sua carta programática “Agradeçamos ao Senhor!”, propôs o seguinte:
Vistos os resultados positivos e o impulso do Capítulo, o Conselho Geral pretende verificar a possibilidade de iniciar também na América alguma fraternidade intercultural, como o “Projeto Fraternidades para a Europa”; consideramos, de fato, que possa ser um instrumento válido para dar nova seiva também a outras circunscrições fora dos limites territoriais do velho continente. Assim, para superar a designação geográfica e levando em consideração este ano jubilar dedicado a São Lourenço de Bríndisi – homem que sabia conjugar admiravelmente oração prolongada, preparação cultural e empenho incansável para implantar com eficácia e fazer progredir vigorosamente a Ordem – pensou-se em nomear o Projeto não mais “Fraternidades para a Europa”, mas “Fraternidades São Lourenço de Bríndisi” (51).
2. O que são as Fraternidades São Lourenço de Bríndisi?
Como fruto do encontro realizado em Fátima em dezembro de 2014, Fr. Mauro Jöhri definia estas fraternidades do seguinte modo:
“Queremos tentar um caminho novo, constituindo fraternidades interculturais que, à luz do Evangelho e das nossas Constituições vivam a oração, a vida fraterna e a missão de modo autêntico e coerente. A riqueza da interculturalidade será o testemunho de que, irmãos provenientes de diversas culturas, se, olham para Cristo no meio deles, podem viver, doar-se e trabalhar juntos. Sustém-nos a consciência de que o carisma de Francisco de Assis, vivido e testemunhado, tem ainda muito a dizer e a comunicar aos homens e mulheres do nosso tempo”.
“Desejo ver surgir fraternidades que vivam uma fé simples e profunda, onde a qualidade das relações fraternas torne-se testemunho do amor de Deus e lugar de acolhida capaz de gerar propostas de seguimento ao Senhor Jesus. Queremos evangelizar com a nossa vida quotidiana e desejamos fazê-lo em comunhão com as igrejas locais e com as realidades eclesiais lá onde o Senhor nos permitirá estar presentes” (Fr. Mauro Jöhri – Fraternidades para a Europa – 28/01/2015).
3. Características carismáticas das fraternidades São Lourenço de Bríndisi.
Estas fraternidades deverão viver intensamente a vida fraterna, a minoridade, a oração e o apostolado. Indicamos algumas características carismáticas destas fraternidades internacionais:
A. Sobre o valor da vida fraterna:
Os frades devem estar convencidos de que a vida fraterna é fundamental em nossa vida capuchinha e também que é o nosso primeiro apostolado. Ser irmãos de verdade: querermo-nos bem, cuidarmo-nos, servirmo-nos, assistirmo-nos, gostar de estar entre nós. Para isso, deve-se gerar um ambiente de confiança, alegria, sensibilidade, acolhida, diálogo, e também de perdão. Tudo isso, nada mais é do que viver o evangelho e, se quisermos evangelizar, devemos primeiro nos dispormos a experimentá-lo.
Por isso, será muito importante uma convivência fraterna de qualidade, gerando um bom ambiente: durante as refeições, os momentos de recreação, as comemorações dos aniversários, um passeio, noites ou dias de fraternidade, momentos frequentes em que se reúnem todos e apenas os irmãos da fraternidade.
É muito importante que, uma vez ao mês, celebre-se o capítulo local, como ocasião propícia de formação, oração, revisão de vida, partilha dos sentimentos, programação e avaliação das atividades, etc.
Além disso, será muito importante que os irmãos dediquem tiempo para se conhecerem, escutarem-se: a vida familiar, a história vocacional, os sonhos e as frustrações, as expectativas com a fraternidade. As relações fraternas se consolidam muito quando se experimenta juntos os momentos de dor e dificuldade como verdadeiros irmãos ou até mesmo como “mães”, especialmente, por exemplo, nos momentos de enfermidade, dificuldade familiar (enfermidade dos pais ou parentes próximos, lutas, crises... escutar, rezar juntos...), momentos de conflito ou crise.
O guardião de cada uma destas fraternidades será uma figura fundamental para que seja um verdadeiro estimulador da fraternidade e de relação com a outra. Por isso, para nomeá-lo, será muito importante que o superior maior faça um bom discernimento, dialogando também com o conselheiro geral da área.
B. Sobre o valor da minoridade.
Francisco se inspirava muito no mistério da encarnação para se animar à minoridade. Também esta característica deve estar muito presente em nossa vida, para não desfigurar nosso ser franciscano. Na minoridade, encontramos a síntese da pobreza com a humildade, e está relacionada à sobriedade, simplicidade, essencialidade, transparência.
Expressões concretas de minoridade devem ser cultivadas nestas fraternidades. Assumir com alegria e zelo os serviços simples da casa, evitando-se, o quanto possível, ter empregados para fazer as coisas que são próprias dos “menores”. Deve ser algo raro quando contratamos pessoas para fazer em nossas casas as coisas mais simples.
Dever-se-á promover a simplicidade nas coisas que temos e usamos, a sobriedade na comida, que deve ser boa, suficiente, saudável, mas também simples e inspirada nas comidas que o povo do lugar consome. Não podemos, ordinariamente em nossas casas, comer o que não é próprio do lugar, pois isto seria uma falta de encarnação. Em algum dia festivo, certamente se poderá “importar”.
É importante manter uma economia transparente e atenta às necessidades autênticas dos irmãos. Os ecônomos devem se sentir servidores da fraternidade e não outra coisa, e todos devem entregar com confiança tudo o que recebem. A fraternidade deve buscar, com criatividade, ser produtiva. Poder-se-ia dizer que deve buscar o autossustento nas coisas diárias, dentro do que for possível, nesta específica realidade missionária. Certamente, quando houver um grupo de formandos, os custos serão maiores, e se poderá recorrer a outros subsídios.
O amor pelo trabalho é, sem dúvida, uma parte importante de nossa espiritualidade, o trabalho é uma graça. O normal em nossa vida é trabalhar pelo que “comemos” e também para a caridade. Se somos sadios e capazes, devemos rejeitar a ideia de sermos mantidos. Vivemos do trabalho de nossas mãos e, quando nos falta, recorremos à mesa do Senhor. Não nos esqueçamos de que somos uma ordem mendicante. E o fato de que até as pessoas simples colaboram conosco nos ajuda a tomar consciência de nossa vocação.
Também o uso de nosso hábito religioso, segundo nossas Constituições, é um sinal de minoridade e pobreza. Sem dúvida, embora não seja obrigatório seu uso contínuo, é um sinal forte de nossa consagração e nos ajuda a consolidar nossa identidade. Em alguns momentos da vida fraterna, como nas orações ou também na pastoral, poderia ser um sinal importante de nosso amor à nossa vocação, e se mostra como um excelente promotor vocacional.
C. Sobre o valor da vida de oração.
Segundo o ideal de São Francisco, a oração deve ter a prioridade em nossa vida, nada deve se antepor a ela, e isto queremos buscar viver em todas as nossas fraternidades. Em boa parte do nosso tempo, queremos estar em fraternidade com o Senhor, saboreando a sua presença, alimentando-nos de sua Palavra, preenchendo-nos com sua graça. Isto significa um tempo importante. A oração não pode entrar nos tempos que sobram de outras atividades, mas as outras atividades ocupam o tempo que sobra da oração (do contrário, ela não é o principal). A oração não deve ser um peso, uma obrigação, mas uma graça, uma delícia, por isso, não deve ser deixada de lado para se cumprir outras coisas, mas deve se viver saboreando esta prioridade.
A eucaristia deve ser a fonte e o cume da vida fraterna. Deve ser ordinariamente celebrada todos os dias com a presença de todos os irmãos da fraternidade, na capela da fraternidade ou em outro lugar, com ou sem a participação de outros fiéis, mesmo que algum frade tenha uma outra missa por motivos pastorais, igualmente o ideal é participar da missa fraterna, como pede a Igreja. Esta missa fraterna, sacramento da unidade, celebrada por todos os frades diariamente, é o fundamento de nossa fraternidade, e é o que nos ajuda a ser um só corpo e uma só alma. Esta missa deve ser vivida com muito entusiasmo: preparando o que for necessário para que a participação seja ativa, consciente e frutuosa.
A Liturgia das Horas, que dilata o alegre diálogo com o Senhor nas várias horas do dia, deve marcar o ritmo da fraternidade e ser motivo de alegria e empenho. Todos nós, pela profissão religiosa, assumimos o compromisso de rezá-la integralmente, em fraternidade, e quando não for possível, cada um deve fazê-lo, mesmo que esteja só. O quanto possível, a fraternidade deve celebrar todas as horas (ofício das leituras, laudes, uma hora média, vésperas e completas). Contudo, laudes e vésperas, segundo as Constituições, não se pode pôr em discussão, ou seja, a fraternidade deve encontrar o modo de celebrá-las ordinariamente em comum, bem como todas as outras horas que se puder. Aqui, o critério se inverte: não o mínimo necessário, mas o máximo possível.
A oração mental, meditação ou contemplação. A tradição capuchinha sempre foi muito zelosa com este tempo de silêncio vivido geralmente em comum no coro e completado nos quartos. Segundo nossas Constituições, este tempo deve ser de ao menos uma hora diária. Às vezes, estamos tão agitados, que nos custa vivê-lo, contudo, é importante praticá-lo com paciência para crescer neste valor. Pode ser feito em dois momentos no dia, mas a experiência nos diz que é melhor fazê-lo juntos na capela. Não podemos nos definir como contemplativos se não temos esta experiência. Ainda que estejamos sobrecarregados de trabalhos apostólicos, este tempo se mostra essencial, para poder trabalhar bem.
Além de tudo isso, é também muito importante que os frades cultivem alguma oração devocional que, conforme a oportunidade, poderá ser vivida em fraternidade, mas sem ser uma substituição às outras formas de oração (missa, liturgia das horas ou a meditação), senão como algo a mais que se soma.
D. Sobre o valor do apostolado.
O apostolado é parte integrante e necessária de nossa vida capuchinha. Somos chamados, consagrados e enviados para servir. Não tem sentido nossa vida se ela não se faz serviço à Igreja e, mais especialmente, aos que sofrem. É importante ter claro que o apostolado não é nossa prioridade, isto é, não é o que vem primeiro, mas isto não significa que possamos viver sem ele. Isto seria um absurdo.
Já que somos chamados a viver nossa missão como frades menores, nosso apostolado deve ser caracterizado por nosso modo de ser. A Igreja espera de nós, capuchinhos, uma colaboração específica, uma evangelização a partir de nosso carisma, uma obra apostólica que tenha a nossa marca. Não “quer” que façamos simplesmente o mesmo que um padre diocesano ou outro missionário podem fazer muito bem.
É por isso que, no momento de exercer nossa atividade apostólica, é importante recordar que somos irmãos. É a partir da fraternidade que servimos. Na fraternidade discernimos, assumimos, trabalhamos e avaliamos. É fundamental trabalhar juntos, tudo o que fazemos deve ser expressão fraterna. Não somos uma sociedade de vida apostólica, isto é, de “pastoralistas” que vivem juntos apenas para facilitar certas coisas, mas que no trabalho apostólico cada um faz o melhor que pode no que lhe é próprio (não que o façam mal, ao contrário, há muito mérito, porém nós, capuchinhos, não devemos ser assim). Somos e queremos ser uma fraternidade apostólica, isto é, homens transformados que gostam de trabalhar juntos, em equipe, superando competições, ciúmes e protagonismos individuais...
Mas não somos apenas irmãos, também somos menores, isto é, preferimos estar no último lugar, gostamos de fazer o que outros não querem fazer, gostamos de ir ao encontro dos “leprosos” para que eles nos curem, e tornem doce o que aos olhos do mundo é amargo, gostamos de ir ao encontro dos que estão afastados de Deus. Não temos necessidade de ter um lugar onde dizer “aqui mando eu”.
É muito importante ter presente o que somos para fazer nosso plano pastoral ou nosso projeto missionário. Ambas as fraternidades devem descobrir o serviço pastoral específico que Deus quer de nós, capuchinhos ali, um projeto que não dependa tanto de qualidades específicas ou do gosto de um determinado irmão que está agora ali, mas algo que possa ser adequado para qualquer frade capuchinho que venha e queira somar, e que, se alguém partir, igualmente possa continuar. Não se trata de desmerecer os dons pessoais de cada um, que certamente são uma riqueza, e podem ajudar muito, mas dentro de um plano de conjunto.
Outro aspecto muito importante para nosso plano pastoral é acompanhar a Igreja, estar atento às indicações dos bispos, sempre e quando não nos quiserem descaracterizar em nosso carisma. É missão dos bispos nos ajudar na fidelidade ao carisma que foi aprovado pela Igreja.
É muito importante que estas fraternidades tenham uma forte animação vocacional, ou seja, rezem pela vocações e estejam atentas a suscitar a inquietude vocacional nos jovens com os quais terão contato e acompanha-los vivamente no discernimento, dando a possibilidade de compartilhar nossa vida. No momento certo, as vocações serão enviadas à circunscrição correspondente.
4. Onde estarão situadas estas fraternidades “São Lourenço” na Amazônia
Serão duas fraternidades internacionais na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, nas cidades de Benjamin Constant (Brasil) e Leticia (Colômbia), onde já temos fraternidades.
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5. Qual será sua especificidade?
Além de viver a proposta das Fraternidades Internacionais “São Lourenço de Bríndisi” neste contexto significativo e missionário, deverão ser um centro de formação que possa oferecer, especialmente aos pós-noviços e também a outros irmãos que o desejarem, a oportunidade de uma formação teórica e prática sobre o ideal de missão em nossa Ordem Capuchinha (Fr. Roberto Genuin, Ministro Geral, Prot. N. 000240/20).
Para tanto, ambas as fraternidades compartilharão este mesmo e único projeto, e deverão ser uma presença significativa do carisma capuchinho na Amazônia (fraternos, menores, contemplativos e apostólicos), que servirão como escola de vida e missão para os irmãos que estão na formação permanente e desejem esta oportunidade e, de maneira muito especial, os irmãos que estão completando sua formação inicial.
6. Características gerais e comuns às duas fraternidades.
A. Quanto à composição do número de frades, indica-se o seguinte:
• Deve haver ao menos 4 frades estáveis em cada fraternidade, melhor ainda se forem 5, para que, se algum irmãos tiver que se ausentar por algum motivo ou sair de férias, não deixe de ser uma fraternidade;
• Destes frades, ao menos 2 devem ser da própria circunscrição, um do Peru e os demais de qualquer outra circunscrição da Ordem, com um contrato de colaboração fraterna, redigido para esta realidade, e assinado entre os superiores maiores interessados e com o visto do Ministro Geral.
B. Em relação aos idiomas, será muito importante que em Benjamin Constant haja ao menos um frade de língua espanhola e em Leticia ao menos um de língua portuguesa. Este bilinguismo parece ser também uma exigência para a posição de ambas fraternidades:
• Benjamin Constant, que está no Brasil, tem, do outro lado do rio, “Islandia”, que está no Peru e o imenso Rio Javari, que é a fronteira entre ambos os países com muitas comunidades (indígenas e ribeirinhas), à qual somos chamados a atender pastoralmente;
• Leticia, que está na Colômbia, está do outro lado da rua com Tabatinga, que é Brasil, também do outro lado do rio está Santa Rosa (Peru), com muitas comunidades bem desassistidas. Na missão desta fraternidade, seria muito importante descobrir um apostolado que possa superar estas fronteiras.
7. A relação entre as duas fraternidades:
Cada uma das fraternidades depende do superior maior à qual pertence seu território, contudo, têm um programa em comum de ajuda mútua para se animarem na vivência dos aspectos carismáticos e compartilham o programa formativo missionário. É por isso que levarão em conta os seguintes aspectos para manter uma relação e projeto comum:
• devem realizar ao menos um encontro mensal de um dia completo, com a participação de todos os frades: pode ser um capítulo formativo, um dia de retiro, um compartilhar dos serviços missionários e também comemorações dos aniversários ou outros eventos;
• os encontros poderão ser alternados entre ambas fraternidades, a menos que exista um motivo ou situação particular que exija outra cosa;
• em um encontro de programação no início do ano, deve-se fazer o programa desses encontros para todo o ano, mas nada impede que se realize algum extraordinário por alguma outra ocasião;
• os guardiães deverão estimular uma fecunda relação entre todos os membros das duas fraternidades, e as ocasiões de encontro de ambas devem ser vistas e vividas como uma grata oportunidade de vivência fraterna;
• devem-se criar meios correntes de comunicação entre todos os membros das duas fraternidades, como um grupo nas redes sociais ou outros meios;
• será importante que ambas dialoguem sobre aspectos específicos que queiram ter, sobre os horários, e também sobre as coisas práticas para que, no que for possível, possam se assemelhar, pensando nos grupos que vão fazer formação, para que não haja fragmentações, e fique claro que têm motivações idênticas;
• cada fraternidade terá seu próprio projeto de apostolado missionário, mas será importante que se promovam durante o ano algumas atividades pastorais em comum, envolvendo todos os frades de ambas as fraternidades, como expressão concreta de nosso modo fraterno de servir a Igreja;
• os frades de uma fraternidade devem conhecer relativamente bem o serviço pastoral que se realiza na outra, para permitir, sem problemas, que aqueles de uma possam suprir a outra quando os frades daquela tiverem que se ausentar pelas atividades da circunscrição: retiro anual, assembleia, etc.
8. Características dos frades para estas fraternidades.
É muito importante que os frades que irmão compor estas fraternidades sejam irmãos animados com vocação capuchinha: gostem de viver e trabalhar em fraternidade; dispostos ao diálogo, a planejar e avaliar; estejam animados e desejosos de uma vida de oração como é o nosso ideal; não tenham problema com os serviços fraternos e com uma vida simples; sintam amor pelo apostolado, a evangelização e missão; e tenham uma adequada saúde física. Não é que devam ser irmãos perfeitos, mas irmãos que não tenham resistência ao que é próprio destas fraternidades internacionais São Lourenço, e queiram crescer.
Também é muito importante que os irmãos que tomarão parte do projeto estejam atentos para construir estas presenças autenticamente capuchinhas, mas com um rosto amazônico. Certamente, o nosso modo de ser capuchinhos pode ser enriquecido com muitas expressões novas aprendidas das culturas milenárias que ali estão. Por isso, especialmente os “novos” irmãos que vão viver ali, devem estar preparados para esta experiência, em particular, os que vêm de outras realidades: estudar algo da cultura, da Igreja local, da inculturação, do diálogo inter-religioso, etc. Em uma palavra: estar bem disposto a aprender, mais do que ensinar...
9. Missão do superior maior da circunscrição que está em seu território
Cada fraternidade será animada pelo superior maior da circunscrição territorial, isto é, estará sob sua responsabilidade, como todas as demais fraternidades da província, contudo, este deve levar em conta sua particularidade:
• Existe um projeto comum entre ambas as fraternidades, o qual deverá guardar, promover e respeitar;
• a importância de dialogar sobre possíveis decisões com o superior maior da outra e também com o Conselheiro Geral da área;
• a visita do superior maior deverá ocorrer ao menos duas vezes e, o quanto possível, uma destas poderia fazê-la com o superior maior da outra e visitar ambas as fraternidades, e enviar um relatório aos Conselheiros Gerais da área;
• é muito importante que o superior maior não pense que este seja um projeto da Cúria Geral e se desinteresse por ele;
• ainda que o projeto dependa dos superiores maiores da circunscrição territorial, a Cúria Geral (especialmente por meio de seus secretariados), oferece o acompanhamento sobre questões específicas como: a boa conformação da fraternidade, a qualidade da oferta formativa e a continuidade da colaboração.
10. O projeto fraterno de cada fraternidade e o projeto de formação missionária
Os frades que comporão estas fraternidades dedicarão o ano de 2022 a viver intensamente a nossa vida capuchinha, procurando consolidar a vida fraterna, a minoridade e a vida de oração. Certamente, este estilo de vida exige desinstalar-se, refazer opções, rever prioridades, porém, é justamente por isso que é um “ideal de vida”, isto é, algo que nos estimula, nos move e nos impulsiona. Durante este período de tempo, os novos conhecerão os serviços apostólicos que se realizam atualmente, procurando aproximar-se com abertura e respeito às pessoas, aos grupos apostólicos e às comunidades indígenas. Não é este um tempo para realizar mudanças ou modificações, mas para conhecer, dialogar e compreender o que se realiza, e conhecer as pessoas do lugar, sua cultura, sua fé.
Também, neste primeiro ano, os frades elaborarão, em conjunto com os secretariados gerais, um curso de formação missionária para todos os pós-noviços das Américas e também para outros irmãos de qualquer parte do mundo que queiram passar um tempo de formação permanente missionária e também carismática, para realizar-se ad experimentum em 2023.
A partir do segundo ano, os frades iniciarão a elaborar um novo projeto pastoral missionário que se ajuste a nosso estilo de vida capuchinho e às fraternidades internacionais “São Lourenço de Bríndisi”. Para isso, levarão em conta:
• As indicações do Papa Francisco na Exortação “Querida Amazônia”;
• as indicações da Conferência Eclesial Amazônica;
• as indicações dos bispos do lugar, de acordo com o plano pastoral diocesano;
• conhecer as indicações da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e descobrir qual contribuição específica podemos dar a este projeto tão importante;
• ser capazes de participar em iniciativas intercongregacionais que sejam promovidas na zona.
Queremos, em primeiro lugar, viver intensamente nossa vida capuchinha, e desejamos que os formandos e frades que farão experiência nestas fraternidades, não somente cresçam no desejo da missão entre os indígenas, que será muito interessante, mas que voltem a suas circunscrições reanimados em nossa vocação diária.
11. Manutenção
Ordinariamente, os frades que participam do “Projeto” devem buscar os meios de subsistência com o próprio trabalho, com a colaboração das pessoas locais, e se isto não for suficiente, com a ajuda da circunscrição.
As partes concordam que a manutenção ordinária dos imóveis, bem como outras despesas ou impostos relacionados à sua posse, ficarão a cargo das circunscrições proprietárias dos imóveis.
Dever-se-á criar um fundo para ajudar na manutenção do “Projeto”, no que as próprias fraternidades não conseguirem suprir, junto às Conferências Capuchinhas da América, com a colaboração de cada uma das circunscrições, por meio de seus respectivos Secretariados para a Evangelização, Animação e Cooperação Missionária.
Em caso de necessidade extraordinária, o superior maior da circunscrição, ou os dois superiores maiores, poderá enviar oportunamente uma solicitação de ajuda econômica ao Departamento de Solidariedade Internacional da Ordem.
12. Conclusão.
A Ordem vê nas fraternidades “São Lourenço de Bríndisi” um modo de resgatar nossos valores, e com elas ajudar a reacender a chama de nosso carisma.
As indicações contidas neste projeto de fraternidades internacionais no coração da Amazônia, na realidade, não são nada mais do que se deveria viver em todas as fraternidades capuchinhas, mas que, por muitos motivos, às vezes está um pouco descuidado. Não são exigências pesadas, mas o modo de sermos capuchinhos no mundo, e os frades que sentem esta vocação podem se realizar profundamente ao vivê-las. Viver estes valores é, certamente, nosso melhor caminho de felicidade capuchinha.
Perfil dos frades para tomar parte das fraternidades internacionais na Amazônia
Premissa: Sabemos que o frade ideal não existe, e todos nós estamos em construção, contudo, levando em conta as características propostas para estas fraternidades, queremos dar algumas indicações que possam ajudar, primeiramente, os irmãos que desejarem participar desta experiência, para que possam fazer seu discernimento pessoal e, em seguida, também a seus superiores maiores que, segundo nossas Constituições, são os que devem enviar generosamente os frades à missão, desde que considerados idôneos. “Os ministros não se recusem a mandar as pessoas idôneas, por motivo de serem poucos os frades na província, mas coloquem todas suas preocupações e pensamento naquele que continuamente cuida de nós” (Const. 178,3).
1 – Deve ser um irmão que “por por inspiração divina se sinta chamado à atividade missionária” (Const.178,1), isto é, que tenha amadurecido na oração e na vida este chamado divino;
2 – um irmão que tenha animação pelo nosso carisma e queira viver a missão a partir de nossa dimensão carismática. Não basta apenas o desejo missionário, é necessário que queira ser um capuchinho missionário;
3 – um irmão idôneo à vida de fraternidade: capaz de escuta e diálogo, de amar e servir os irmãos, de relações interpessoais saudáveis, não conflitivo. Que goste das dinâmicas fraternas: capítulos locais, partilha fraterna. Uma pessoa positiva e flexível;
4 – um irmão que goste da minoridade. Disponível para fazer os serviços fraternos, até os mais simples. Sem demasiadas exigências quanto a comodidades, ou alimentação, ou artigos pessoais, com capacidade de administrar positivamente as limitações logísticas do lugar. Que acredite que a pobreza é um valor;
5 – um irmão aberto e animado com nossa vida de oração, que entenda que ela é nossa prioridade (Const. 45,7). Que queira crescer na vida espiritual capuchinha. Que não tenha resistência à eucaristia diária, às Liturgia das horas e à meditação, ainda que sinta que deva melhorar;
6 – um irmão otimista, generoso com a vida apostólica e disposto a vivê-la a partir da fraternidade. Que queira experimentar a fraternidade como primeiro apostolado. Capaz de se doar na missão, mas deixando-se orientar pela fraternidade e pela Igreja. Aberto à inculturação, capaz e disponível à aprendizagem de outros idiomas e com gosto especial no serviço aos mais necessitados. Capaz de colaborar de forma criativa com um projeto missionário (planejar, executar e avaliar);
7 – um irmão disposto a colaborar no acompanhamento e formação de irmãos visitarem as fraternidades para ter uma experiência de fraternidade e missão, pregando tanto com o testemunho de vida quanto com as palavras;
8 – um irmão maduro (preferivelmente, entre 35-55 anos de idade), com boa saúde física e emocional. Que, se tivera algum problema de saúde, não tenha sido algo que ponha a fraternidade em situação difícil. Que tenha uma estabilidade emocional capaz de viver com alegria as possíveis situações que possam ocorrer em uma missão;
9 – um irmão que saiba se relacionar com a própria família e com amizades externas de maneira sadia, sem criar situações desconfortáveis à fraternidade;
10 – que seja um irmão que deseje fazer parte desta experiência por ao menos 6 anos.
Insistimos que não estamos pensando em um irmão perfeito, mas um irmão, como a maioria dos irmãos, que vive com alegria, simplicidade e disponibilidade seu ser capuchinho, e tenha vontade de crescer e melhorar em tudo o que for possível. Contudo, há irmãos que, pelo seu histórico, percebe-se claramente que não são indicados para esta experiência, pois certamente sofrerão muito e também farão sofrer.
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